quarta-feira, 23 de julho de 2025

Youtubers, política e redes sociais: quem está a influenciar os jovens portugueses?

Estava a ver uns vídeos no YouTube, quando comecei a pensar : será que os nossos adolescentes estão mesmo a aprender política nas escolas ou estão a formar a sua opinião a ver TikToks, lives no Instagram e stories de influencers? A verdade é que, com a campanha para estas autárquicas, começo a pensar:  E se os youtubers e influencers forem hoje os “professores” de política da nova geração?

Penso que os jovens têm opiniões, causas que os movem (ambiente, igualdade, saúde mental, etc.) e vontade de participar. Só que muitas vezes não se revêm na política “à antiga”: cheia de discursos, debates que mais parecem gritaria e promessas que ninguém cumpre.

Então, onde é que eles vão procurar informação? Nas redes sociais, no TikTok, no YouTube, no Insta, no X (ainda me custa não chamar Twitter ). E quem aparece nesses feeds? Os criadores de conteúdo que eles seguem todos os dias. São eles que falam “à maneira deles” sobre temas sociais, votações, injustiças, leis.

Mas serão estes influencers, formadores de opinião?

Muitos influencers usam as suas plataformas para dar visibilidade a causas importantes, alertar para fake news, ou até explicar temas políticos de forma simples e direta. Às vezes um vídeo de 1 minuto no TikTok consegue fazer mais do que 3 anos de aulas de Cidadania. Mas também há o lado negativo: opiniões mal fundamentadas, desinformação, populismo, ou até manipulação. Quando alguém com milhões de seguidores dá uma opinião sem saber bem do que fala, pode estar a influenciar milhares de jovens que ainda estão a formar a sua visão do mundo.

E isso levanta uma nova questão importante: quem está a ensinar os jovens a pensar criticamente?

Os políticos esquecem, mas adolescentes têm direitos, e não só o direito de estudar , mas também o direito à informação, à participação e à liberdade de expressão. Aliás, em vários países já se fala em dar o direito de voto aos 16 anos.

Se os jovens portugueses estão a formar as suas opiniões políticas no YouTube e no TikTok, então está na hora de apostar na educação para os media e nas escolas, ensinar a distinguir opinião de facto, pedir mais responsabilidade a quem influencia e acima de tudo, dar voz aos jovens nas decisões que também os afetam.

Porque a política não é só votar de 4 em 4 anos. A Política é tudo aquilo que influencia no nosso dia a dia; o preço dos transportes, a qualidade da escola, as mudanças climáticas, a forma como tratamos os outros.

Talvez os nossos políticos e partidos, precisem uma formação de bem-vindos à política versão adolescentes digitais.

Bj utópico

Dri

sábado, 19 de julho de 2025

Verão, Coldplay e Abraços Proibidos


O verão tem este dom: aquece os corpos, mas também aumenta os impulsos, muda as rotinas, solta o que está preso. Talvez por isso tantas verdades venham à tona quando os dias ficam longos demais e as noites, curtas demais para esconder desejos.

Esta semana, uma imagem roubou os holofotes num concerto dos Coldplay em Boston. A kiss cam, usada para mostrar casais apaixonados, expôs uma traição ao vivo, num mar de pessoas e luzes. Estavam abraçados, sorrindo, sem perceber que estavam a ser filmados. O momento que devia ser íntimo tornou-se público, mesmo viral. Originando mesmo que um dos atores se tenha demitido por ser CEO de uma empresa americana .

E hoje, como se o universo gostasse de repetir cenas com outros atores, vi um encontro breve na praceta atrás da minha casa. Dois corpos, dois sorrisos contidos, um abraço longo como quem carrega saudade e urgência ao mesmo tempo. Durou pouco. Depois, cada um seguiu para um lado diferente.

O verão aquece a pele  e promete  liberdade, mas também traz verdades incómodas. Nem sempre o amor aparece com alianças ou promessas claras. Às vezes, o amor está  escondido num concerto, noutras vezes numa praceta por quinze minutos roubados de uma tarde de sábado.

E a traição, afinal, é sempre mais sobre o que falta do que sobre o que sobra.

Bj utopico 

Dri

domingo, 13 de julho de 2025

No calor das audiências, o frio das relações — e o papel do direito


Esta semana senti o calor na temperatura mas também no ar parado das salas de audiência de diferentes cidades que carregam o sol, mas também o silêncio abafado das mágoas mal resolvidas. Foi em diferentes salas do norte do país que ouvi o mesmo eco, o mesmo cansaço e os mesmos conflitos com nomes e rostos diferentes. Era o silêncio que gritava entre um “ela não deixa” e um “ele não cumpre”. As paredes bege, os olhares endurecidos de pais e mães sentados frente a frente, como se ainda estivessem em guerra, mesmo depois do fim do amor.

Assim foi mais uma semana mergulhada em processos de responsabilidades parentais, ou seja, um nome bonito para o que, muitas vezes, é só uma guerra disfarçada pela palavra protecção num cenário de guerra de uma sala de audiencias.

Nestas salas, vi pais e mães que não se escutam. Não por falta de voz, mas por falta de vontade. Mas também vi quem fala alto mas não ouve, vi quem aponta dedo, mas não vê. E vi crianças a ser tratadas como armas, como troféus, como provas de quem “ganha” a luta.

E no meio disso tudo, a Advogada, que também é mulher, filha e mãe, mas que com imparcialidade tentou mediar o impossível, tentou que nascesse a sensatez onde só há raiva acumulada e orgulho ferido. Ser advogada não é só no papel: é carne, é alma, é cansaço, é ver o ego de alguns intervenientes gritar mais alto que o bem-estar da criança, é sentir que, muitas vezes, o que falta não é regra nem lei, mas a empatia. Diria mesmo que falta escuta em todos os intervenientes.

Saí de algumas salas com uma sensação de cansaço e dei por mim, a caminho do escritório, a pensar naqueles pequenos seres que dependem tanto dos adultos que ainda não aprenderam a amar sem condicionar, sem controlar, sem ferir. Ser advogada, nestes casos, não é só aplicar o direito. É carregar histórias mal contadas, mágoas que não cabem nos autos, decisões que nunca são neutras.

Mas ainda assim, sigo. Sigo porque acredito que, entre tanta rigidez, ainda há espaço para todos os intervenientes destes processos conseguirem o recomeço. Nem todos sabem como, mas todos podem aprender a mudar as suas praticas, as suas posturas e o seu cuidado.

E talvez, só talvez, escrever sobre isso seja também uma forma de lembrar: não basta ser pai ou mãe ou avó ou avô ou tio ou tia ou filho ou irmão, advogado, juiz, psicólogo, assistente social ou procurador no papel. É preciso ser, de verdade, na escuta, na presença e no cuidado.

Bj utópico

Dri

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Quem somos, afinal?


Esta pergunta ecoou em mim, pela primeira vez, na adolescência, quando mergulhei nas páginas do livro O Mundo de Sofia.  Na altura, achei que era só mais um livro — uma perspectiva filosófica, diziam os adultos. Mas, hoje ao ouvir os discursos do Dia de Portugal, descobri que aquela pergunta ficou: quem somos? Talvez tenha ficado nas gavetas da memória como uma pedra no sapato ou como uma semente no coração.

A verdade é que hoje, tantos anos depois, ao escutar o discurso da Lídia Jorge — aquela voz que carrega a lucidez serena de quem já viu muito — fui levada de volta ao Mundo de Sofia e das interrogações. Lídia Jorge disse: “Cada um de nós é uma soma. Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou.”

E então pensei que podia responder à adolescente que leu o Mundo de Sofia que somos todos mistura.
Mistura de histórias, de dores, de conquistas e silêncios. Somos a criança curiosa e o velho que já desistiu de perguntar. Somos o corpo que dança e a mente que questiona. Somos o que herdámos e o que escolhemos ser. Não há uma identidade pura porque mesmo na natureza não há uma raiz sem ramos.

Dentro de mim vivem as raízes dos meus pais, dos meus avós e dos meus bisavôs, mas vive também a diáspora dos que foram, a esperança dos que vieram, os fantasmas do que foi feito em nome de algo maior ou menor.

E talvez por isso a pergunta não seja só “quem somos”, mas também de quem venho? e quem quero ser agora? Neste mundo que gira cada vez mais depressa, onde nos exigem certezas, talvez o mais revolucionário seja parar e abraçar a complexidade.

Talvez sejamos todos um pouco do Mundo de Sofia. ou seja, filósofos por dentro, mesmo quando ninguém vê.

Bj utópico
Dri

PS- Amanhã tenho de ir a biblioteca dos meus pais procurar o Mundo de Sofia. Ler O Mundo de Sofia aos 40 será como revisitar a adolescencia. Na adolescência, aquele livro era uma revelação em cada página pois cada conceito era uma descoberta, cada filósofo era uma revelação. Hoje, já conheço muitas das perguntas, já tropecei em algumas respostas, mas há uma nova camada: a da experiência. A leitura agora é menos sobre “aprender” e mais sobre “lembrar”. E talvez o segredo esteja aqui perceber que a filosofia continua a perguntar por nós, mesmo quando andamos distraídos com a pressa dos dias.

terça-feira, 3 de junho de 2025

O dia da Criança....


No dia 01 de Junho festejamos o Dia da Criança, mas só hoje tive tempo de escrever sobre esta data. O Dia da Criança não deve ser só mais uma data para balões coloridos e brinquedos embalados. É um convite à consciência. Um alerta de que, por trás dos sorrisos infantis, há uma realidade que ainda grita por justiça, equidade e respeito. 
Ser criança é viver com os olhos abertos para o espanto, é transformar caixas em castelos, é colher estrelas no quintal. É acreditar que o mundo pode ser justo, que os adultos sabem todas as respostas e que o amanhã é sempre uma promessa de aventura.

Mas, neste mundo que construímos, quantas crianças têm o direito de apenas ser? Quantas podem brincar sem medo, sonhar sem limites, crescer sem pressa?

Todos os dias, vejo um fosso doloroso entre a teoria e a prática, um sistema jurídico, que apesar de prever garantias robustas, permanece muitas vezes inoperante diante dos direitos das crianças. Como defendo os direitos da criança ainda são uma utopia para muitas infâncias atravessadas pela desigualdade social, pela violência doméstica, pela negligência. Como li outrora, negligenciar uma criança é amputar o seu futuro em silêncio.

A efetividade dos direitos das crianças não depende apenas da sua previsão normativa, mas de uma atuação concreta do Estado e da sociedade civil. E é aí que falhamos — quando olhamos sem ver, ouvimos sem escutar e calamo-nos diante da desigualdade.

No Dia da Criança, mais do que homenageá-las com presentes, precisamos questionar: o que temos feito para que os direitos das crianças deixem de ser uma utopia e se tornem realidade? Que mundo estamos a construir para elas — e com elas?

Acredito que a esperança deve continuar a ser cultivada como flor teimosa no asfalto. Porque ainda acredito num tempo em que toda criança terá voz, vez e valor. Um tempo em que ser criança será, de fato, sinónimo de proteção, afeto e oportunidade.

Feliz Dia da Criança, todos os dias para que o futuro que desejamos para elas comece com as escolhas que fazemos hoje.

Bj utópico

Dri

quinta-feira, 29 de maio de 2025

As feridas da alma em Lampedusa


É 01h da manhã. A casa está em silêncio, mas cá dentro há um ruído que não me larga. Sinto uma urgência que não me deixa adormecer — a urgência de escrever.
Hoje escrevo com o som suave de Morricone que embala os pensamentos, enquanto a minha cadela dorme tranquila, deitada ao meu lado. Há uma paz estranha neste cenário, mas também um peso no peito. Porque escrever, para mim, é isso: uma forma de resistir à indiferença, de gritar baixinho ao mundo que há coisas que não podemos ignorar. As palavras são pequenas lanternas que acendemos na escuridão. E esta noite, talvez alguém, em algum lugar, as veja… e acorde também.

No dia 27 de Maio , por razões profissionais assisti ao seminário “Migrações: Acolher e Integrar, que desafios?”, uma iniciativa do Município de Valongo. Era só mais uma manhã a falar sobre migrações, pensava eu. Mas não era. Nada foi “só”.
O Dr. Pietro Bartolo, médico de Lampedusa e ex-eurodeputado, subiu ao palco com a voz serena de quem carrega o peso do mundo… e, ainda assim, continua de pé. Conhecido pela sua incansável atuação humanitária junto de migrantes no Mediterrâneo, Pietro Bartolo não nos trouxe apenas dados. Trouxe-nos vidas.

Passaram-se mais de 48 horas e ainda escuto a sua voz. Ainda vejo as imagens. Ainda sinto as histórias.
A sua humildade fez o auditório inteiro estremecer. Com palavras nuas e olhos cansados, fez-nos sentir — na pele e na alma — a dor de quem parte sem saber se chega.Mas também a dor de quem fica para acudir, cuidar, acolher. E que dor é essa, que se cola ao peito como o sal numa ferida aberta.

Pietro Bartolo diz que as feridas da alma são difíceis de curar.E diz isso com a autoridade de quem viu mais do que devia, de quem segurou mãos que já não tinham força, de quem ouviu silêncios que gritavam.

Lampedusa deixou de ser uma ilha distante. Ganhou cheiro, rosto, lágrimas.E eu...ganhei inquietude.

Fico a pensar: quantas fronteiras cabem dentro de uma só vida?
E quem somos nós, se não cuidarmos uns dos outros?

Amanhã, o mundo continuará a girar com a mesma pressa de sempre. Mas eu vou levá-lo comigo — o olhar de Pietro Bartolo, as histórias que não cabem em manchetes, a certeza de que a empatia é uma escolha diária. Porque ouvir, sentir e depois calar… não é opção. Que este texto seja semente. Que nos empurre, mesmo que devagarinho, para um lugar onde ninguém tenha que fugir para poder viver.

Bj utópico
Dri

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Saudade



Hoje recebi uma mensagem simples. Daquelas que, à primeira vista, poderiam passar despercebidas num dia cheio. Mas não passou. Uma mensagem de um amigo. Um amigo que vive do outro lado da fronteira – em Espanha, onde o idioma é outro, o tempo tem outro ritmo, e onde a palavra saudade... simplesmente não existe.

Mas como lhe explicar o que é saudade?

Vou lhe dizer que: Saudade é uma palavra que só existe no português. Mas mais do que uma palavra, é um sentimento. É quando alguém está longe, mas ainda assim muito perto de nós. É quando algo passou, mas continua a viver em forma de memória viva. É querer perto, mesmo entendendo que nem sempre dá. É presença na ausência.

Ele talvez, mesmo sem entender tudo vá responder : “Entonces, yo también te tengo... esa cosa sin nombre.”

E nesse momento, percebemos que talvez não seja mesmo preciso traduzir. Porque sentimentos, quando são verdadeiros, atravessam qualquer idioma. E que a saudade – essa que sentimos- é uma prova bonita de que viver tem sido real, e amizade tem valido a pena.

No meu mundo, a saudade não é dor – é poesia viva. É a lembrança de que, mesmo longe, estamos sempre juntos na amizade

Bj utopico

Dri

Youtubers, política e redes sociais: quem está a influenciar os jovens portugueses?

Estava a ver uns vídeos no YouTube, quando comecei a pensar : será que os nossos adolescentes estão mesmo a aprender política nas escolas ou...