sábado, 4 de outubro de 2025

Jazz


 Algumas presenças chegam silenciosas, e outras chegam como quem sabe que veio para ficar. A Jazz chegou assim, a nossa  Jack Russell, mas com uma intensidade que preencheu todos os cantos da  casa. 

No início, foi só curiosidade: um olhar que observava, cada gesto, cada respiração. Aos poucos, tornou-se companhia, confidente e afeto que não se mede. 

O Dia do Animal já não é apenas uma data. É um aviso do que significa existir lado a lado com outra vida que não fala, mas se faz ouvir com cada gesto, cada toque, cada pulo de alegria. A Jazz trouxe-nos uma nova forma de celebrar: não com palavras, mas com presença.

Ao acordar com um olá a abanar a cauda, a partilhar silenciosamente o sofá, as suas pequenas travessuras  lembram-nos que a família não se limita a quem partilha sangue, mas também àqueles que tornam os dias mais leves e o coração maior.

E assim, neste Dia do Animal, celebramos a nossa Jazz. Celebramos cada instante que nos lembra que o amor pode caber em quatro patas, e que, às vezes, a maior lição de vida vem de um olhar curioso e de um coração que nos escolheu para ser o seu mundo.

Bj utópico

Dri



quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A música e eu

Cresci com a música. Não apenas com os sons que vinham da rádio ou do walkman, mas com a música que o meu pai carrega dentro dele.

Ele tem o hábito de encher o silêncio com melodias, com acordes que entram pela sala, atravessam as paredes e se escondem na memória.

Foi assim que desde pequena aprendi que a música não é apenas som. A música é presença, é afeto que se transforma em notas, é uma herança invisível que molda quem somos, sem pedir licença. A música está em tudo desde o respirar lento das manhãs, no silêncio carregado de lembranças, no barulho da rua, no riso que escapa sem pedir licença ou até mesmo na tristeza que dá ritmo ao choro ao embalar um coração cansado.

A música fez parte da minha infância e da minha adolescencia, mas sempre me acompanhou em todos os caminhos que percorro. E hoje esta ligação à musica atravessa gerações e idiomas com o meu filho e os meus sobrinhos.

Com a música hoje vejo um avô que oferece canções como quem oferece colo. E um neto que recebe notas musicais como quem recebe raízes. E, juntos, criam um espaço onde o tempo não para, porque o que vibra é eterno.

Talvez seja isso a música: um abraço que não conhece idade. 

E quando o dia parece mudo, basta fechar os olhos para que alguma nota escondida desperte dentro de nós.

Bj utópico

Dri


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Primeira Semana de Aulas

Passou a tua primeira semana de aulas do 6º ano e todos os dias quando te ouço a falar das tuas aventuras, imagino como escreverias o teu primeiro dia se o blog fosse teu:

"Hoje eu acordei com o sol a entrar pela janela. Era meu primeiro dia de escola com onze anos. Na roupa do  uniforme, as cores pareciam mais vivas, e o cheiro do lanche lembrava-me a aventura dos intervalos. Segurei a mochila como se fosse um baú de tesouros, cheio de lápis que prometiam histórias, cadernos que guardavam sonhos, e uma garrafa de água que, na minha imaginação, me podia transformar em qualquer coisa que eu quisesse ser naquele dia.

Quando cheguei à escola, as paredes sussurravam boas-vindas, e cada colega parecia uma personagem de uma banda desenhada com seus próprios poderes secretos. Sentei-me na cadeira, e percebi que este dia não seria só mais um dia de aulas: seria o começo de um universo inteiro que eu ainda nem sabia que podia explorar.

E então, respirei fundo e sorri. Porque, mesmo com o coração a bater forte e a ansiedade a fazer cócegas na barriga, eu sabia que aquele primeiro dia de escola aos onze anos seria só o primeiro capítulo de uma história que eu escreveria com cores, aventuras e sonhos que nunca acabam."

Porque, mesmo que ele esteja a começar esta nova aventura sozinho, eu sei que estarei sempre aqui para cada passo, cada queda e cada vitória.

Bj utópico

Dri


quarta-feira, 23 de julho de 2025

Youtubers, política e redes sociais: quem está a influenciar os jovens portugueses?

Estava a ver uns vídeos no YouTube, quando comecei a pensar : será que os nossos adolescentes estão mesmo a aprender política nas escolas ou estão a formar a sua opinião a ver TikToks, lives no Instagram e stories de influencers? A verdade é que, com a campanha para estas autárquicas, começo a pensar:  E se os youtubers e influencers forem hoje os “professores” de política da nova geração?

Penso que os jovens têm opiniões, causas que os movem (ambiente, igualdade, saúde mental, etc.) e vontade de participar. Só que muitas vezes não se revêm na política “à antiga”: cheia de discursos, debates que mais parecem gritaria e promessas que ninguém cumpre.

Então, onde é que eles vão procurar informação? Nas redes sociais, no TikTok, no YouTube, no Insta, no X (ainda me custa não chamar Twitter ). E quem aparece nesses feeds? Os criadores de conteúdo que eles seguem todos os dias. São eles que falam “à maneira deles” sobre temas sociais, votações, injustiças, leis.

Mas serão estes influencers, formadores de opinião?

Muitos influencers usam as suas plataformas para dar visibilidade a causas importantes, alertar para fake news, ou até explicar temas políticos de forma simples e direta. Às vezes um vídeo de 1 minuto no TikTok consegue fazer mais do que 3 anos de aulas de Cidadania. Mas também há o lado negativo: opiniões mal fundamentadas, desinformação, populismo, ou até manipulação. Quando alguém com milhões de seguidores dá uma opinião sem saber bem do que fala, pode estar a influenciar milhares de jovens que ainda estão a formar a sua visão do mundo.

E isso levanta uma nova questão importante: quem está a ensinar os jovens a pensar criticamente?

Os políticos esquecem, mas adolescentes têm direitos, e não só o direito de estudar , mas também o direito à informação, à participação e à liberdade de expressão. Aliás, em vários países já se fala em dar o direito de voto aos 16 anos.

Se os jovens portugueses estão a formar as suas opiniões políticas no YouTube e no TikTok, então está na hora de apostar na educação para os media e nas escolas, ensinar a distinguir opinião de facto, pedir mais responsabilidade a quem influencia e acima de tudo, dar voz aos jovens nas decisões que também os afetam.

Porque a política não é só votar de 4 em 4 anos. A Política é tudo aquilo que influencia no nosso dia a dia; o preço dos transportes, a qualidade da escola, as mudanças climáticas, a forma como tratamos os outros.

Talvez os nossos políticos e partidos, precisem uma formação de bem-vindos à política versão adolescentes digitais.

Bj utópico

Dri

sábado, 19 de julho de 2025

Verão, Coldplay e Abraços Proibidos


O verão tem este dom: aquece os corpos, mas também aumenta os impulsos, muda as rotinas, solta o que está preso. Talvez por isso tantas verdades venham à tona quando os dias ficam longos demais e as noites, curtas demais para esconder desejos.

Esta semana, uma imagem roubou os holofotes num concerto dos Coldplay em Boston. A kiss cam, usada para mostrar casais apaixonados, expôs uma traição ao vivo, num mar de pessoas e luzes. Estavam abraçados, sorrindo, sem perceber que estavam a ser filmados. O momento que devia ser íntimo tornou-se público, mesmo viral. Originando mesmo que um dos atores se tenha demitido por ser CEO de uma empresa americana .

E hoje, como se o universo gostasse de repetir cenas com outros atores, vi um encontro breve na praceta atrás da minha casa. Dois corpos, dois sorrisos contidos, um abraço longo como quem carrega saudade e urgência ao mesmo tempo. Durou pouco. Depois, cada um seguiu para um lado diferente.

O verão aquece a pele  e promete  liberdade, mas também traz verdades incómodas. Nem sempre o amor aparece com alianças ou promessas claras. Às vezes, o amor está  escondido num concerto, noutras vezes numa praceta por quinze minutos roubados de uma tarde de sábado.

E a traição, afinal, é sempre mais sobre o que falta do que sobre o que sobra.

Bj utopico 

Dri

domingo, 13 de julho de 2025

No calor das audiências, o frio das relações — e o papel do direito


Esta semana senti o calor na temperatura mas também no ar parado das salas de audiência de diferentes cidades que carregam o sol, mas também o silêncio abafado das mágoas mal resolvidas. Foi em diferentes salas do norte do país que ouvi o mesmo eco, o mesmo cansaço e os mesmos conflitos com nomes e rostos diferentes. Era o silêncio que gritava entre um “ela não deixa” e um “ele não cumpre”. As paredes bege, os olhares endurecidos de pais e mães sentados frente a frente, como se ainda estivessem em guerra, mesmo depois do fim do amor.

Assim foi mais uma semana mergulhada em processos de responsabilidades parentais, ou seja, um nome bonito para o que, muitas vezes, é só uma guerra disfarçada pela palavra protecção num cenário de guerra de uma sala de audiencias.

Nestas salas, vi pais e mães que não se escutam. Não por falta de voz, mas por falta de vontade. Mas também vi quem fala alto mas não ouve, vi quem aponta dedo, mas não vê. E vi crianças a ser tratadas como armas, como troféus, como provas de quem “ganha” a luta.

E no meio disso tudo, a Advogada, que também é mulher, filha e mãe, mas que com imparcialidade tentou mediar o impossível, tentou que nascesse a sensatez onde só há raiva acumulada e orgulho ferido. Ser advogada não é só no papel: é carne, é alma, é cansaço, é ver o ego de alguns intervenientes gritar mais alto que o bem-estar da criança, é sentir que, muitas vezes, o que falta não é regra nem lei, mas a empatia. Diria mesmo que falta escuta em todos os intervenientes.

Saí de algumas salas com uma sensação de cansaço e dei por mim, a caminho do escritório, a pensar naqueles pequenos seres que dependem tanto dos adultos que ainda não aprenderam a amar sem condicionar, sem controlar, sem ferir. Ser advogada, nestes casos, não é só aplicar o direito. É carregar histórias mal contadas, mágoas que não cabem nos autos, decisões que nunca são neutras.

Mas ainda assim, sigo. Sigo porque acredito que, entre tanta rigidez, ainda há espaço para todos os intervenientes destes processos conseguirem o recomeço. Nem todos sabem como, mas todos podem aprender a mudar as suas praticas, as suas posturas e o seu cuidado.

E talvez, só talvez, escrever sobre isso seja também uma forma de lembrar: não basta ser pai ou mãe ou avó ou avô ou tio ou tia ou filho ou irmão, advogado, juiz, psicólogo, assistente social ou procurador no papel. É preciso ser, de verdade, na escuta, na presença e no cuidado.

Bj utópico

Dri

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Quem somos, afinal?


Esta pergunta ecoou em mim, pela primeira vez, na adolescência, quando mergulhei nas páginas do livro O Mundo de Sofia.  Na altura, achei que era só mais um livro — uma perspectiva filosófica, diziam os adultos. Mas, hoje ao ouvir os discursos do Dia de Portugal, descobri que aquela pergunta ficou: quem somos? Talvez tenha ficado nas gavetas da memória como uma pedra no sapato ou como uma semente no coração.

A verdade é que hoje, tantos anos depois, ao escutar o discurso da Lídia Jorge — aquela voz que carrega a lucidez serena de quem já viu muito — fui levada de volta ao Mundo de Sofia e das interrogações. Lídia Jorge disse: “Cada um de nós é uma soma. Tem sangue do nativo e do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas. Somos descendentes do escravo e do senhor que o escravizou.”

E então pensei que podia responder à adolescente que leu o Mundo de Sofia que somos todos mistura.
Mistura de histórias, de dores, de conquistas e silêncios. Somos a criança curiosa e o velho que já desistiu de perguntar. Somos o corpo que dança e a mente que questiona. Somos o que herdámos e o que escolhemos ser. Não há uma identidade pura porque mesmo na natureza não há uma raiz sem ramos.

Dentro de mim vivem as raízes dos meus pais, dos meus avós e dos meus bisavôs, mas vive também a diáspora dos que foram, a esperança dos que vieram, os fantasmas do que foi feito em nome de algo maior ou menor.

E talvez por isso a pergunta não seja só “quem somos”, mas também de quem venho? e quem quero ser agora? Neste mundo que gira cada vez mais depressa, onde nos exigem certezas, talvez o mais revolucionário seja parar e abraçar a complexidade.

Talvez sejamos todos um pouco do Mundo de Sofia. ou seja, filósofos por dentro, mesmo quando ninguém vê.

Bj utópico
Dri

PS- Amanhã tenho de ir a biblioteca dos meus pais procurar o Mundo de Sofia. Ler O Mundo de Sofia aos 40 será como revisitar a adolescencia. Na adolescência, aquele livro era uma revelação em cada página pois cada conceito era uma descoberta, cada filósofo era uma revelação. Hoje, já conheço muitas das perguntas, já tropecei em algumas respostas, mas há uma nova camada: a da experiência. A leitura agora é menos sobre “aprender” e mais sobre “lembrar”. E talvez o segredo esteja aqui perceber que a filosofia continua a perguntar por nós, mesmo quando andamos distraídos com a pressa dos dias.

Jazz

  Algumas presenças chegam silenciosas, e outras chegam como quem sabe que veio para ficar. A Jazz chegou assim, a nossa  Jack Russell, mas ...